Segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
São Cesário e São Valério
“A coincidência é a presença discreta
de Deus propositadamente programada para dar certo na hora exata e nas
circunstâncias ideais.”
EVANGELHO DE HOJE
Lc 6,36-38
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus
Cristo, + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 36“Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso.
37Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados;
perdoai, e sereis perdoados. 38Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada,
sacudida, transbordante será colocada no vosso colo; porque com a mesma medida
com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
MEDITANDO O EVANGELHO
Alexandre Soledade
Bom dia!
A leitura desse evangelho denota
o quanto ainda precisamos amadurecer como pessoas e em especial como cristãos,
pois geralmente ofertamos as coisas boas apenas a aqueles que gostamos e
escolhemos, tornando assim, o evangelho de hoje, um grande desafio para cada um
de nós.
Existem várias promessas nele,
mas que carecem como já frisamos, de um grande amadurecimento pessoal e já que
estamos na quaresma, aproveitemos, pois o tempo é esse!
No entanto, é importante separar
e salientar que: A mudança de atitude não pode ser encarada como uma troca ou
permuta (o Senhor faz isso e eu faço isso) e sim como consequência da mudança.
Se passarmos a fazer as coisas aos outros somente para recebermos algo em
troca, de que vale o gesto? Um parêntese: fazemos isso demais com Deus.
Jesus apresenta na verdade, uma
proposta de MUDANÇA DE VIDA e PARADIGMAS e não somente uma solução mágica. Ele proporciona
também que vejamos os frutos dela.
Muitas dessas coisas que Ele nos
oferece “chocam” com o nosso jeito egoísta de ser e se comportar, ou será que
nos imaginamos hoje perdoando quem nos ofendeu ou se calando (evitando fofocas)
quando alguém nos difama, critica ou ataca? Ainda não é fácil! Se nos batem,
queremos partir pra cima; se nos ofendem procuramos sempre algo ainda maior que
nos faça vencedor… Somos reféns da “última palavra” (hunf)
Marcos, em um trecho de sua
narrativa (Marcos 4, 26-27), apresenta o reino de Deus como a semente que
cresce e nós nem a percebemos. Ao mudar minha forma de pensar ou responder as
agressões que recebo, SEM PERCEBER, começo a permitir que o reino de Deus
cresça dentro de mim diferentemente daqueles que buscam aos bons atos ou
caridade ou a denúncia do pecado sem a devida acolhida como forma autopromoção.
“(…) Enquanto isso, os homens se
tinham reunido aos milhares em torno de Jesus, de modo que se atropelavam uns
aos outros. Jesus começou a dizer a seus discípulos: GUARDAI-VOS DO FERMENTO
DOS FARISEUS, QUE É A HIPOCRISIA. Porque não há nada oculto que não venha a
descobrir-se, e nada há escondido que não venha a ser conhecido. Pois o que
dissestes às escuras será dito à luz; e o que falastes ao ouvido, nos quartos,
será publicado de cima dos telhados”. (Lucas 12, 1-3)
Se existe algo que precisa ser
policiado em nossas vidas e a língua e o pensamento, pois sobre eles não temos
muito controle. Imaginemos que o controle que temos sobre eles é análogo
quando, sem querer, chutamos, com o dedinho do pé, a perna mesa ou a mesinha de
centro da sala. É difícil não querer xingar, mas é desse controle , no momento
de raiva, da dor, da revolta, de que estou falando. “(…) Não julguem os outros,
e Deus não julgará vocês. Não condenem os outros, e Deus não condenará vocês.
Perdoem os outros, e Deus perdoará vocês. Dêem aos outros, e Deus dará a
vocês”.
Sim, a proposta é desafiadora,
mas deve começar no reconhecimento, que não nos esforçamos ou empenhamos no
limite das forças, portanto, continuemos a tentar… O próprio escritor do livro
de Daniel (primeira leitura) deixa claro que a primeira fase dessa mudança
consiste em reconhecer que também somos falhos e precisamos também mudar
“(…) ‘Eu te suplico, Senhor, Deus
grande e terrível, que preservas a aliança e a benevolência aos que te amam e
cumprem teus mandamentos; 5temos pecado, temos praticado a injustiça e a
impiedade, temos sido rebeldes, afastando-nos de teus mandamentos e de tua lei;
6não temos prestado ouvidos a teus servos, os profetas, que, em teu nome,
falaram a nossos reis e príncipes, a nossos antepassados e a todo o povo do
país. 7A ti, Senhor, convém a justiça; e a nós, hoje, resta-nos ter vergonha no
rosto:seja ao homem de Judá” (Daniel 9, 4b -7),
Quaresma é um tempo de reflexão,
oração e se for o caso, arrependimento, pois não surge o arrependimento
verdadeiro se não vir uma profunda reflexão.
Reflitamos hoje com mais atenção
o que diz o ato de contrição, trazendo a mente se de fato estamos empenhados a
controlar nossos instintos, quereres e nosso ímpeto em prol dos outros.
Senhor, eu me arrependo
sinceramente DE TODO MAL QUE PRATIQUEI E DO BEM QUE DEIXEI DE FAZER. Pecando,
eu vos ofendi, meu Deus e sumo bem, digno de ser amado sobre todas as coisas.
PROMETO FIRMEMENTE, ajudado com a vossa graça, fazer penitência e fugir às
ocasiões de pecar. Senhor, tende piedade de mim, pelos méritos da paixão, morte
e ressurreição de Jesus Cristo, nosso Salvador. Amém!
Um imenso abraço fraterno!
MOTIVAÇÃO NO TRABALHO
Max Gehringer responde
Palavra da semana: DELETAR. Esse
anglicismo seguiu um caminho idêntico ao de milhares de palavras, a rota
latim-francês-inglês- português. Em latim, deletus era “removido, apagado”.
Cerca de 90% das palavras inglesas que estão no menu do micro têm origem
latina, como File (de filum, “novelo”), Save (de salvare) e Print (de premere).
Algumas aportaram por aqui há tempos. Outras, como deletar, estão chegando
agora.
Tenho amigos dos tempos de faculdade que se
tornaram empresários ou executivos, mas nunca tive coragem de pedir algo a
eles. Fico constrangido em misturar a amizade com o lado profissional. Possuo
um networking, só não sei como aproveitá-lo. – Emerson
Escolha um dos amigos. Aquele que, nas
conversas, dá a impressão de se preocupar mais com seres humanos do que com os
números da empresa ou com ele mesmo. Marque uma entrevista formal com ele,
exponha sua situação e peça um conselho (não um emprego). Se ele de fato for o
que aparenta ser, ele certamente o ajudará.
Trabalho numa empresa em que o presidente fuma, e
alguns diretores e gerentes também. Perguntei a meu gerente (não-fumante) se
isso não é proibido e recebi a informação de que, sendo uma entidade privada e
sem circulação de pessoas de fora, a empresa não se enquadra em leis que proíbem
o tabagismo em locais de frequência pública, como bancos e restaurantes. –
Clarice
Seu gerente está mal informado, Clarice. A
Lei Federal 9.294 e o Decreto 2.018, ambos de 1996, proíbem o tabagismo em
ambientes fechados, em todo o território nacional. E a lei estabelece que
ambiente fechado é “qualquer recinto coletivo, público ou privado”. Portanto,
todas as empresas estão incluídas. Também consta na lei que o tabagismo é
permitido em áreas destinadas exclusivamente a esse fim, desde que isoladas e
arejadas, e essa exceção deu origem aos fumódromos das empresas. Se a sua não
tem um, o presidente não deve fumar nem mesmo trancado na sala dele, e você
pode fazer uma denúncia ao órgão de Vigilância Sanitária de sua cidade.
Sou psicóloga formada há dois anos e não consigo
emprego em minha área... – Danielle
Pensando apenas em empresas, Danielle, essa
situação é paradoxal. Por um lado, há uma multidão de empregados necessitando
de amparo psicológico, devido à constante e contínua pressão por resultados. Por
outro lado, psicólogos figuram entre as categorias profissionais com maior
índice de desemprego, proporcionalmente ao número de formandos. Como você sabe,
empresas são obrigadas por lei a ter um médico do trabalho. Se essa lei não
existisse, é bem provável que 80% das empresas brasileiras não tivessem médicos
efetivos. Mas não há nenhuma lei nesse sentido em relação a psicólogos. Além
disso, os planos de convênio médico mais disseminados no mercado não contemplam
a assistência psicológica, o que reduz imensamente o número de potenciais
pacientes. Juntando tudo isso, chega-se ao paradoxo da existência tanto da
necessidade quanto da oferta, mas sem que as duas pontas consigam se juntar.
Sinto lhe dizer que esse é um nó que aumenta de tamanho a cada ano e que vai
muito além da simples procura por um emprego. Ele só será desatado por meio de
ações efetivas do Conselho Federal de Psicologia e do Congresso Nacional.
Trabalho em Curitiba. Recebi um convite de uma
empresa de São Paulo para discutir uma possível mudança de emprego. As
conversas preliminares por telefone foram boas, mas agora preciso ir a São
Paulo para ser entrevistado. Só que não sei como explicar a meu diretor que vou
perder um dia inteiro de trabalho. O que eu faço? Digo a verdade? Minto? – Aldemar
Dizer a verdade é um risco enorme, porque
você poderá acabar não conseguindo o outro emprego e perdendo o que já tem. E
mentir nunca é bom. Sugira que a entrevista seja marcada para um sábado, dada a
impossibilidade de você se ausentar num dia útil. Se a empresa realmente
estiver interessada em contratá-lo, ela aceitará sua sugestão. Se não aceitar,
isso significa que você é apenas um entre vários candidatos. Nesse caso, não
perca seu tempo. Agradeça e recuse.
MOMENTO DE REFLEXÃO
Eu era ladrão.
Queria o objeto.
Tomei-o.
A pesada porta de
carvalho da igreja rangeu ruidosamente quando a abri. Com o coração pulsando
fortemente, entrei para o seu interior às escuras. A porta fechou-se às minhas
costas, abafando o rumor do tráfego, lá fora, numa das avenidas principais de
Bridgewater, Massachusetts.
Em meio ao silêncio
das sombras, uma luz mortiça brilhava no alto, acima do altar. Corri os olhos
pelos bancos, e senti um grande alívio ao constatar que era a única pessoa no
santuário, pois eu entrara ali para roubar.
Desci pelo corredor
carpetado, os nervos à flor da pele, indo em direção ao altar, onde as velas
bruxuleavam. Quando criança, eu costumava frequentar essa Igreja de São Tomás
de Aquino. Mas os anos haviam-se passado, e eu estava com 15 anos. Já não
acreditava em Deus, representado ali pela figura silenciosa, sofredora, pregada
ao crucifixo sobre o altar.
Meus pais haviam-se
separado, e minha madrasta me agredia muito, tanto verbal como fisicamente.
Papai nunca parecia estar presente, então apeguei-me a meu irmão mais velho,
Bruce. Ele era grandalhão, e sempre escapava dos abusos da madrasta, dizendo
que a mataria se tocasse nele.
— Olhe aqui, Mike,
sussurrou-me ele certa noite em nosso quarto, eles nos dizem para acreditarmos
em Deus, só para obrigar a gente a andar na linha. Mas quando você ficar mais
velho, verá que não existe nada disso.
Aquilo me pareceu
um raciocínio acertado. E perguntei a mim mesmo: para que ser bom? E essa ideia
se reforçou, quando descobri que, roubando, poderia ter tudo que quisesse. Mas
tive também que cumprir pena em dois reformatórios locais. Depois disso, fui
morar com minha mãe verdadeira, numa casinhola, na periferia da cidade. Foi ali
que me tornei um espertalhão, escolado no crime.
Agora, de pé junto
ao corrimão do altar, em frente das velas que gotejavam parafina, dei um
sorriso. Peguei uma delas e com ela acendi mais dez. Ao clarão delas, notei que
havia dinheiro agarrado ao orifício do gazofilácio. Consegui puxá-lo para fora,
mas ao vê-lo soltei um palavrão entre dentes. Era apenas um dólar. Deixei meus
olhos vaguearem por ali. Os ornamentos do altar eram de bronze e não valiam
grande coisa. Mas, a um lado dele, havia uma porta aberta. Nas pontas dos pés,
fui até ela e entrei. Encontrava-me na saleta do padre.
Vasculhei as
gavetas, mas nada achei a não ser as vestimentas sacerdotais. Quando me ergui,
avistei um imenso cofre cinzento a um canto. A porta dele estava entreaberta.
Esperando encontrar ali as ofertas recolhidas, abri a pesada porta de aço. Não
havia dinheiro, mas numa das prateleiras vi um brilhante cálice de prata. Tive
uma vaga lembrança de que tomara o vinho da comunhão servido num cálice igual
àquele. Um raio de luz que entrou por uma janela incidiu sobre ele, refletindo-se
em suas linhas graciosas.
Peguei o pesado
objeto e examinei o fundo dele.
— Prata! exclamei.
Ali havia também
uma inscrição gravada. “Para o Rev. John A. Wilcox, de seus amados pais.”
Aquele nome não me dizia nada.
Na prateleira havia
também um estojo forrado de veludo. Recoloquei o cálice nele e saí, levando-o.
Ao passar perto do altar, senti um tremor de medo. Mas Deus não existia, eu
sabia disso. Esgueirei-me para fora do templo, de encontro ao ar frio do inverno.
Apressadamente,
pedalei de volta para casa, em minha bicicleta, o estojo com o cálice escondido
na cesta, sob uns jornais velhos. Estava-me lembrando de um anúncio de jornal
que vira, de um joalheiro de Taunton, uma cidadezinha próxima, que comprava
ouro e prata.
Chegando em casa,
desci rápido até o porão, e tirei o cálice da caixinha e escondi-a sob umas
tábuas do assoalho. Peguei um prego grande e raspei a inscrição. Depois
depositei o cálice de prata no chão e golpeei-o fortemente com uma pedra, até ficar
bem amassado e informe.
No dia seguinte,
pedalei até Taunton com aquele pedaço de metal escondido sob o casaco. O
ourives levou-o a uma saleta dos fundos, a fim de testá-lo e pesá-lo. Depois
voltou, e, sem fazer nenhum comentário, entregou-me nove dólares e sessenta e
cinco centavos.
Chegando em casa,
dei uma espiada no jornal do dia, sobre a mesa da cozinha. Logo na primeira
página havia um artigo denunciando o roubo de um valioso cálice. Toda a
arquidiocese fora alertada, e os membros daquela igreja tinham iniciado uma
vigília de oração em favor da pessoa que o levara. Em minha imaginação, comecei
a sentir aquelas orações pairando em torno de mim. Estremeci e atribuí aquilo à
minha preocupação com o temor de ser descoberto.
No dia seguinte,
fui interrogado pela policia que fazia uma investigação de rotina das pessoas
da localidade que tinham ficha policial. Neguei que soubesse qualquer coisa
sobre o roubo, mas naquela noite entrei em pânico. E se eles conversassem com o
joalheiro? Tirei quinze dólares da bolsa de minha mãe, e pedalei até a estação
onde tomei um trem para Filadélfia. Ali fui para a rodovia 30 e comecei a pedir
carona para o Oeste.
Às duas da manhã,
ainda vagava penosamente por uma estrada varrida pelo vento, tremendo de frio
sob um blusão fino, ignorado pelos motoristas de caminhões que passavam por ali
roncando velozmente. Por fim, avistei uma capelinha da roça, lá embaixo, numa
encosta.
Arrombei a porta e
estendi-me sobre um dos bancos, mas fazia tanto frio que não consegui dormir.
Sobre o altar, havia um pano grosso, de veludo, no qual estavam bordadas as
palavras: “Fazei isto em memória de mim.” E foi esse pano que me aqueceu
naquela noite. Na manhã seguinte, continuei a pedir carona, e fui para Virgínia
Ocidental. Na cidade de Parkersburg, fiquei a vagar por uma rua do centro,
cansado e morto de fome. Ali a polícia me pegou e ligaram para meu pai.
Ele veio me buscar,
e o percurso de volta a Massachusetts se constituiu o mais longo período de
tempo que eu já passara em companhia dele. Mas a notícia que me aguardava em
casa, era das piores. A polícia resolvera fazer uma busca em minha casa, e
encontrara o estojo do cálice debaixo das tábuas do assoalho no porão.
Alguns dias depois,
fui indiciado perante o juiz que olhou para mim com uma expressão sombria.
— Você cometeu um
terrível sacrilégio, disse.
Senti que todos os
presentes no tribunal me tinham profundo desprezo, e estremeci.
Dessa vez fui
condenado a cumprir pena no Instituto de Reabilitação Juvenil. Esse instituto,
que antes fora uma penitenciária, era bem diferente dos reformatórios onde eu
estivera anteriormente. Aqui, jovens marginais, embrutecidos pelo crime,
lutavam entre si com armas improvisadas de molas de cama, cujas pontas
aguçavam, e com vidros quebrados. Certa vez, vi baterem num rapaz até ele
perder os sentidos, simplesmente porque roubara o maço de cigarros de outro.
Pouco depois que
fui levado a essa prisão, o capelão parou certo dia junto ao meu catre no
dormitório, para um bate-papo. Era jovem, e tinha ombros largos como um jogador
de futebol americano. Seu rosto amplo e o cabelo negro, encaracolado, me
pareceram ligeiramente familiares. Então me lembrei de que o havia visto no
tribunal, no dia em que fora indiciado. Mas levei um grande choque com o que veio
depois.
— Olá, Michael,
disse ele estendendo a mão. Sou o Padre John Wilcox.
Olhei para ele
paralisado de espanto. John Wilcox
— era esse o nome
gravado no cálice. Ele estivera no tribunal aquele dia. Sabia quem eu era.
Encolhi-me na cama. Mas nada aconteceu. Fitei os profundos olhos castanhos
daquele homem. Mas neles não havia condenação.
Ele se sentou em
meu catre, deu-me algumas orientações sobre a melhor maneira de me conduzir na
prisão, depois tocou-me de leve no ombro e saiu do dormitório. Grandemente
admirado, fiquei a olhar suas costas largas que desapareciam corredor abaixo.
Passei vários dias
tentando entender John Wilcox. Era diferente de todas as outras pessoas que eu
conhecia. Meu universo sempre fora cheio de fúrias, dores e ódios. Lembrei-me
do rapaz que havia apanhado por ter furtado o maço de cigarros. Pensei em todo
o ódio que já presenciara, pessoas berrando de raiva, roubando, magoando
outros, querendo as coisas. Mas o Padre John Wilcox não era assim.
Certo dia, quando
estava meditando no dormitório, lembrei-me remotamente das histórias de Jesus,
que tinha ouvido quando criança. Diziam que ele perdoava os pecadores e nunca
condenava ninguém, nem mesmo àqueles que O haviam torturado na cruz.
Bem lá no fundo de
meu ser, algo pareceu explodir, e eu me deixei cair no meu catre, em prantos.
No dia seguinte,
pedi para ver o Padre Wilcox. Fui introduzido em seu gabinete, mas a princípio
não consegui dizer nada.
— O que é, Mike?
perguntou carinhosamente.
Olhei para ele, com
os olhos molhados.
— Padre, estou
muito sentido, disse sufocado. Quero pedir-lhe que me perdoe.
E desatei a chorar,
soluçando. Senti sua mão sobre a minha cabeça. Quando ergui o rosto para
fitá-lo, vi que seus olhos brilhavam com uma espécie de luz Já o perdoei, Mike,
disse ele.
Creio que esta foi
a primeira vez que vi Jesus. Nos olhos do Padre Wilcox.
- Michael Bresciani,
Conte Comigo Deus.
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