Domingo, 17 de
julho de 2016
"A VIDA
é uma pedra de amolar; desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos
feitos.”(George Bernard Shaw- 1856-1950)
EVANGELHO
DE HOJE
Lc 10,38-42
— O Senhor
esteja convosco.
— Ele está
no meio de nós.
—
PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo Lucas.
— Glória a
vós, Senhor!
E muitas
pessoas tinham vindo visitar Marta e Maria para as consolarem por causa da
morte do irmão. Quando Marta soube que Jesus estava chegando, foi encontrar-se
com ele. Porém Maria ficou sentada em casa. Então Marta disse a Jesus:
- Se o
senhor estivesse aqui, o meu irmão não teria morrido! Mas eu sei que, mesmo
assim, Deus lhe dará tudo o que o senhor pedir a ele.
- O seu
irmão vai ressuscitar! - disse Jesus.
Marta
respondeu:
- Eu sei que
ele vai ressuscitar no último dia!
Então Jesus
afirmou:
- Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e
crê em mim nunca morrerá. Você acredita nisso?
- Sim,
senhor! - disse ela. - Eu creio que o senhor é o Messias, o Filho de Deus, que
devia vir ao mundo.
Palavra da
Salvação
Glória a vós
Senhor.
MEDITAÇÃO
DO EVANGELHO
José Cristo
Rey Garcia Paredes
Segundo
o evangelho de hoje, Marta tem a felicidade de acolher ao mesmo Jesus. A
hospitalidade é imediata. No entanto, merece uma repreensão por parte de Jesus,
ou melhor, uma impressionante inspiração. Marta multiplica-se na hora de
oferecer seus serviços. Porém, a serie de serviços é tal que todas as mãos que
colaboram são poucas. Marta requer também as mãos de sua irmã, Maria. Jesus
qualifica a conduta de Marta com dois termos: "inquieta" e
"nervosa". Jesus faz-lhe ver que está sem concentração, que lhe
preocupam demasiadas coisas e no fundo lhe escapa a mais importante. Além
disso, lhe censura por tentar contagiar dessa mesma falta de concentração a sua
irmã Maria.
Jesus
mostra assim, que hospitalidade não é oferecer serviços, mais “conectar",
"atender", "se concentrar na pessoa à que se acolhe". A
pessoa à que se atende não é um ser que merece compaixão, mais um mistério que
deve ser decifrado. É uma presença intensa de Deus que se manifesta no
"diverso", "no outro", "ao que não é de casa”.
É
necessário dizer, a favor de Marta, que esta mulher - depois de tudo - soube
centrar-se na pessoa de Jesus. Soube compreender seu Mistério e unir o serviço
a uma fé profunda em Jesus. Quando morreu Lázaro, foi ela, não Maria, quem saiu
ao encontro de Jesus. Foi ela, não Maria que em um diálogo precioso com Jesus
admitiu que era o Filho de Deus, o que tinha que vir ao mundo. Tão pouco Sara,
a mulher de Abraão, entendeu no princípio a promessa dos hóspedes de Abraão,
porém depois ela recebeu a bênção e acolheu.
Na
Igreja oferecemos muitos serviços. A organização é cada vez melhor, mais
extensa. Nossas dioceses, paróquias, congregações, comunidades, fazem o
possível para funcionar sempre melhor. Mas, atende-se para valer às pessoas? É
a pessoa, seu mistério, sua genialidade, sua unicidade, que nos comove?
Dizia-me uma vez, Antonio - um mendigo a quem conheci e valorizei muito - que
não ia a um lugar de assistência para comer, porque serviam bem, mais que “não
lhe olhavam no rosto”. De que nos vale ter milhares de alunos, milhares de
necessitados, milhares de paroquianos... se não temos tempo de olhar os seus
rostos? De que nos serve ter aos nossos cuidados muitas pessoas, se não
chegamos a nos conectar pessoalmente com eles?
A
falta de hospitalidade na Igreja pode chegar a ser alarmante quando: você é
tratado como um número e não como pessoa, quando te reprovam sem te conhecer,
quando suspeitam de ti, quando te colocam etiquetas e te desprezam. Às vezes
nos esforçamos na hospitalidade com os poderosos, com aqueles de quem podemos obter
benefícios. Não é assim, em tantos outros casos?
Haverá
quem interprete o Evangelho de hoje como uma senha de “entrega absoluta a
Jesus”. Porém não se pode esquecer o que Jesus disse: "Quem a vocês ouve,
a mim ouve, quem vos dá um vaso de água dá a mim; estive enfermo e me
visitastes...”.
Porém
não é questão só de serviços. Há algo bem mais profundo: a valoração da pessoa.
E, por isso, a acolhida de seu mistério, de sua forma diferente de ser. Não se
sente falta da hospitalidade para o mistério das pessoas? A que se deve então
tanta crítica, tanto desprezo - ainda que às vezes de modo cortes - para o
diferente, para o que não pensa como eu?
A
excessiva hostilidade nada tem que ver com a atenta hospitalidade. Se na Igreja
nos sentimos atacados por tantas frentes, muitas vezes injustamente, algumas
vezes justamente, não será por nossa falta de hospitalidade? Porque andamos
inquietos e nervosos com muitas coisas, mas não acolhemos o único necessário,
que tem muito que ver com acolher a Jesus na pessoa do outro?
E
voltamos ao princípio desta reflexão. Na senha do “servir" fazemos méritos
para o outro. Na senha do “acolher" à pessoa estranha nos sentimos
agraciados com algo muito divino que se derrama em nós. Uma Igreja de serviços
não se confunde com uma Igreja de acolhida pessoal, que olha aos olhos, que se
estremece ante o outro, que agradece a Deus se sentir visitada.
VÍDEO
DA SEMANA
Parar de
sofrer pelo outro (Parte 1) - Pe. Fábio de Melo
MOMENTO
DE REFLEXÃO
Sempre
pensei que ia morrer cedo. A luta armada, a clandestinidade na luta contra a
ditadura, aventuras, promiscuidade, orgias, riscos... Tudo me levava a crer que
não chegaria aos trinta anos.
Para
quem tem vinte anos, quem tem trinta já é coroa. Tomei um susto quando vi-me
vivo e saudável aos trinta.
Aos
quarenta percebi a possibilidade real da morte. No dia do meu aniversário
quarentão, um jovem ator de 24 anos perguntou como eu me sentia: "Agora? de
frente para a morte". Para minha surpresa foi o jovem quem morreu logo
depois.
Aos
cinqüenta apaixonei-me pela letra de Aldir Blanc na voz de Paulinho da Viola:
"... aos cinqüenta anos, insisto na juventude...", isto enquanto
percebia meu ângulo peniano caminhando para os 90º. Mas, antes dos sessenta a
pílula azul alargou minhas possibilidades e possibilitou-me ver o sexo por
ângulos mais estreitos.
Agora
estou além dos sessenta.
Aos
quarenta, rezava pela alma dos mortos amigos e parentes. Nome por nome eu pedia
ao Senhor. Hoje, são tantos os que caíram, que apenas peço "... pelos
mortos em geral".
E
mais uma vez espanto-me por estar ainda vivo, e consolo-me no Salmo 91.7 que
diz: "... 1.000 cairão ao teu lado e 10.000 à sua direita, mas você não
será atingido". Mesmo confiando na Palavra, ainda assim caminho embaixo de
marquise pra São Pedro não me ver.
Ainda
estou vivo, e pra quem pensou que morreria aos trinta, descubro que existe vida
após a vida.
Mas
o preço do viver é muito alto para o jovem de hoje: tem que comprar
apartamento, arranjar um trampo, ganhar dinheiro, ficar famoso, comer todas,
bombar no youtube, malhar, casar, ter filhos, comprar carro, estar bronzeado,
conhecer tudo de web, e ainda ir ao show da Madonna, entre outras miudezas.
Após
os sessenta, você já está quite com tudo isto e pensa que vai viver em paz.
Qual
o quê: tem que tomar insulina, antidepressivos, rivotris, controlar a pressão,
não comer açúcar, não comer sal, não fumar, não beber, se conseguir comer uma e
outra já é uma vitória, tem que caminhar ao menos meia hora por dia mesmo sem
querer, cuidar do joanete, dormir cedo, vender o apartamento, fugir da bolsa,
não discutir no trânsito, não se alterar no caixa do supermercado, tolerar os
filhos, agradar os netos, ficar calado diante da mediocridade, aceitar o
salário de aposentado, ter o testamento em dia, e curtir todas as dores ósseas,
nervosas e musculares porque se algum dia você acordar sem dor é porque está
morto...
Claro
que o idoso tem suas vantagens: uma delas é a transparência. Quanto mais velho
mais transparente você se torna. Chega a ficar invisível: ninguém mais lhe
percebe, mais um pouco e nem lhe enxergam.
Mas,
pode passar à frente dos jovens nas filas todas, com aquele ar de superior:
"Você é jovem e sarado, mas eu tenho prioridade"... E ante qualquer
aborrecimento ou dificuldade você ameaça enfartar ou ter um AVC. Funciona
sempre, todos logo se tornam gentis e cordatos, e é garantia de muitas meias e
lenços como presentes no Natal.
Lidando
com a minha "terceira idade" ouço de meu psicanalista, o bom Luiz
Alfredo: "Só há dois caminhos: envelhecer... ou o outro, muito pior".

Após
os sessenta, como no filme de Brad Pitt, regrido na existência, deixo Paulinho
e a viola de lado e reencontro Lupiscinio "Esses moços, pobres moços... ah
se soubessem o que eu sei...". Mas se soubessem não ia adiantar nada:
porque a sabedoria é filha do tempo. Como diz o amigo Percinotto, também idoso:
"o diabo é sábio porque é velho".
Pelo
andar da carruagem, percebo que já morri muitas vezes nesta vida, e que viverei
até fartar.
Benvindo
Sequeira
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